Já ouviu falar em síndrome do intestino irritável? Esta condição vem sendo investigada e atrelada à vida de milhares de pessoas diariamente, pois sua relação com a saúde mental, saúde metabólica e saúde hormonal é direta.
Quem sofre de SII vive em uma via de mão dupla: assim como a condição de vida do indivíduo afeta sua saúde intestinal, a saúde intestinal também afeta sua condição de vida, atrapalhando muitas vezes coisas simples como curtir as férias, viagens, concentração em reuniões ou uma simples absorção de nutrientes diários.
A síndrome do intestino irritável é um distúrbio intestinal resultante de uma série de interações do sistema gastrointestinal, emocional e até social do indivíduo. Há não muito tempo atrás escrevi outra matéria aqui mencionando como o desfralde das crianças afetam sua saúde intestinal para toda uma vida, nossa cultura e nossa vida social afetam diretamente o funcionamento do nosso intestino, e o resultado pode não ser muito satisfatório.
Uma condição patológica intestinal afeta desde a produção de serotonina, que acarreta em distúrbios emocionais e transtorno de humor por exemplo, como também está presente em reações em cascata no sistema imunológico, ativações neurológicas (nosso intestino possui milhares de neurônios que se ligam ao cérebro e possui conexão direta via nervo vago), produções ineficazes de vitaminas, absorção fraca ou inexistente de algumas substâncias e uma série de condições que vão aparecendo com o passar dos anos.
Fique atento: crianças com problemas intestinais possuem riscos de saúde muito maiores, tendo mais processos inflamatórios e alérgicos, e o estrago pode se perdurar até a vida adulta.
Um adulto com problemas intestinais geralmente é uma criança que cresceu tendo problemas intestinais, muitas vezes mascarados pelo uso de antibióticos, vermífugos e excesso de açúcares, que acabam por promover mais diarreia, e quando adulto, este mesmo indivíduo passa para o estágio da constipação.
Mulheres, infelizmente, tendem a ter mais problemas intestinais e SII pelos costumes, cultura, vida social, variação hormonal frequente, e alimentação específica que passa por diferentes fases em estágios estéticos, uso de suplementos específicos e também medicamentos de uso contínuo, como o anticoncepcional oral.
Vale ressaltar que a SII é uma condição funcional, e não estrutural, isso quer dizer que é uma doença que não necessariamente afeta a estrutura do intestino, mas, sim, sua função, e essa condição está vinculada a somatização de sintomas, psicológicos, emocionais, estresse, e também, a infecções, disbiose e, obviamente, alimentação.
Como saber se você possui SII:
Observe alternância no ritmo de evacuações, em que você varia da constipação a diarreia, sem manter uma frequência ou ritmo.
Observe se o emocional, ansiedade, estresse, estar fora de casa, estar em viagens, faz com que você tenha mudança intestinal, como ficar constipado, ou ter um episódio de diarreia.
Observe se, ao comer determinados alimentos, você não responde muito bem à metabolização deles, se sentindo estufado, com dores (principalmente abaixo e ao lado esquerdo do umbigo), sensação de não ter evacuado completamente.
Mesmo após exames inconclusivos de intolerâncias alimentares, você sente que o intestino não possui regularidade, e as vezes passa dias sem evacuar.
Itens do nosso dia a dia que, com certeza, estão deixando seu intestino irritado:
- Excesso de condimentos industrializados: os realçadores de sabor, temperos de pacotinhos, e demais aditivos químicos usados em preparos prontos são os campeões de causar danos ao nosso intestino. Por isso alerta-se tanto ao consumo de industrializados, além de toda a relação com doenças crônicas metabólicas, esses aditivos alteram nossa microbiota intestinal e causam reações pró-inflamatórias, além de poder desencadear reações alérgicas.
- Consumo excessivo de gordura de origem animal e ômega 6: ambas relacionadas a ações pró-inflamatórias, essas fontes de gordura estão ligadas maior frequência de inflamações, o que chamamos de inflamação crônica subclínica, que causa danos a longo prazo em nosso organismo e que já se sabe da relação entre o alto consumo, ou consumo desproporcional, entre o excesso de gordura animal e ômega 6 frente ao consumo de origem vegetal ou ômega 3 (ação anti-inflamatória).
- Uso de medicamentos contínuos: seja qual for o medicamento, desde os utilizados com frequência como analgésicos, antitérmicos, anti-inflamatórios, como os de uso continuo e diário para patologias já existentes (hipertensão arterial, doenças da tireoide, etc.), a interação desses fármacos com a saúde intestinal pode ser negativa. Para os de uso contínuo, aconselha-se que haja manejo intestinal e melhora da qualidade alimentar para que os danos e efeitos colaterais sejam sempre os menores possíveis, e para aqueles que não possuem indicação médica para uso contínuo, aconselha-se evitar ao máximo o uso de medicamentos sem necessidade.
- Estresse: não podemos mudar o mundo, mas podemos mudar o jeito que lidamos com os problemas do mundo. Uma das autorregulações que o organismo tenta fazer frente ao estresse, é a mudança do trânsito intestinal e, por isso, sempre que estiver passando por períodos de estresse, você irá detectar que o intestino fica trancado, lento ou solto demais (diarreia).
- Consumo de toxinas advindas de pesticidas, agrotóxicos e outros componentes agrícolas e industriais: o plástico da garrafa pet, esquentar alimentos no micro-ondas em plásticos com bisfenol, consumir alimentos transgênicos, e outra gama gigante de alimentos infectados por componentes agrícolas (venenos/pesticidas), assim como carnes onde o animal é alimentado por componentes químicos (ração com aditivos, antibióticos e uso de medicamentos para crescimento e saúde do animal). Todo esse excesso de consumo diário afeta a sua saúde intestinal, e mesmo que você não perceba os danos agora, no processo de envelhecimento o dano fica maior.
- Excesso no consumo de carboidratos de alta fermentação: glicose, frutose, maltose, polióis (como xilitol, sorbitol e eritritol), lactose, entre outros, que fermentam e não são completamente digeridos pelo nosso organismo, irritam a sua microbiota intestinal e podem causar disbiose (alteração no perfil de bactérias intestinais).
- Adoçantes: alguns, que parecem bem familiar na sua alimentação, como o eritritol, a sucralose, xilitol, entre outros, são os grandes causadores de disbiose, mudam seu perfil de microbiota intestinal e, consequentemente, com mudanças de humor e estresse de rotina, o seu intestino fica extremamente irritado.
- Itens comuns que podem estar na sua rotina e lhe causando desconfortos intestinais: sucos de frutas, sucos de caixinha, refrigerante, energéticos, molho pronto, alimentos congelados, molhos de soja comercial, queijos processados, pão branco industrializado (se o seu problema não é o glúten, o consumo desses pães é mais perigoso pelo excesso de aditivos, procure sempre os pães caseiros, fermentação natural).
A lista poderia ser bem maior, mas estes são os mais presentes na rotina, e que estão diretamente ligados às disfunções intestinais que acometem um paciente com SII.
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